sexta-feira, 1 de abril de 2011

CRISTO, FONTE DE LUZ QUE NOS LIBERTA DA IGNORÂNCIA E DA SUPERFICIALIDADE PARA O SERVIÇO.

03/04/2011 – 4º DOMINGO DA QUARESMA – ANO A

Infelizmente, em nossa cultura considerada moderna, a aparência tem se tornado fundamento principal na relação com o outro; nosso juízo tem sido pautado não naquilo que o outro é, mas naquilo que o outro aparenta ser e pior, naquilo que o outro aparenta ter. Vivemos numa sociedade permeada de hipocrisia e incoerência, onde a verdade acerca da pessoa que somos e do comportamento que temos, não raramente, são dissimulados, isto é escamoteados por uma personalidade aparente e por um relacionamento superficial.
O apelo que a Palavra de Deus nos lança torna-se então um grande desafio: mudar nosso paradigma de relações interpessoais, a começar pela comunidade de fé a qual nós interagimos com nossos irmãos de batismo. Esta relação deve estar pautada na autenticidade e no crédito de consideração e dignidade dado ao outro simplesmente por ser filho de Deus; esta dignidade considerada ao outro requer uma valorização de sua presença, não pelo que se percebe externamente do outro, ou pela disponibilidade de recursos que possui; a este novo jeito de se relacionar, o próprio Deus ordena: Não olhes para a sua aparência nem para a sua grande estatura” (1Sm16,7); tal relacionamento está pautado não no julgar humano, embasado na lei, mas na acolhida caridosa, motivada não no simples olhar das aparências, mas ao contrário, na consideração dos sentimentos e das intenções das pessoas que de nós se aproximam.
Isto é caminhar na luz, ao mesmo tempo em que esta se tornando luz; à luz devem ser reveladas todas as nossas intenções escusas; sob a claridade da luz, se manifesta em nós o nosso lado bom : “bondade, justiça, verdade” (cf Ef 5,9), e são estas característica que devem prevalecer nos cristãos, ainda que se encontrem envolto à trevas, isto é, no sofrimento, na dor e mesmo nas decepções que o mundo nos impõe; sob a luz nossas decepções devem ser convertidas em esperança, e nossa esperança deve ser o próprio Jesus Cristo: “Apesar de tudo, portanto a humanidade pode ter esperança e deve ter esperança” (CHRISTIFIDELES LAICI, 7)¹; entregar-nos à des-esperança é um pecado contra o Espírito Santo que nos mantém vivo, a isso Paulo nos anima: “Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá” (Ef 5,14).
As obras que Deus tanto quer realizar em nosso meio, muitas delas, sim, inconcebíveis à nossa compreensão, tal como a cura do cego de nascença, isto é, da fragilidade humana que não advém daquilo que a lei prescreve: “Nem ele nem seus pais pecaram” (Jo 9,3), depende deste estado de atenção e disponibilidade em acolher a voz de comando do próprio Deus “Senhor dos exércitos”; toda a nossa fragilidade é para que Deus se manifeste em nós, do contrário, estriamos desprovidos e des-necessitados de sua graça.
Conceber uma não necessidade de Deus, é estar envolto a luz e continuar cego, pior ainda, é ter a capacidade de ver, apenas a aparência, mas não poder enxergar o que se desvela, ou seja, a essência de si mesmo e, consequentemente, do outro: o Espírito de Deus, que habita em nós e nos torna seres humanos, criaturas e filhos amados de Deus. Ver a superficialidade nos leva a julgar que o outro é que sempre está no erro, e a consequência natural deste julgar será buscar eliminá-lo (cf. Jo 9,34), e isto seria um contra testemunho do cristão e da comunidade que se diz cristã, pois contrariaria dois princípios utilizados pelo Cristo: o da inclusão e o da acolhida.
“Pelo mistério da encarnação, Jesus conduziu à luz da fé a humanidade que caminhava nas trevas. E elevou à dignidade de filhos e filhas os escravos do pecado, fazendo-os renascer das águas do Batismo” (Prefácio: O cego de nascença, Missal Romano, p. 205).
Fraternal abraço.
¹ João Paulo II. Exortação apostólica pós-sinodal Chistifideles Laici (30 de Dezembro de 1988). 15ª Ed. São Paulo : Paulinas, 1990, p. 19.

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