sexta-feira, 5 de agosto de 2011

REFLEXÃO DA PALAVRA - XIX DTC: “VERDADEIRAMENTE, TU ÉS O FILHO DE DEUS” (Mt 14,33)

XIX DOMINGO DO TEMPO COMUM
07/08/2011 – Ano A – cor: verDE

PRIMEIRA LEITURA: 1 Reis 19,9.11-13
SALMO RESPONSORIAL: 84/85
SEGUNDA LEITURA: Romanos 9,1-5
EVANGELHO: Mateus 14,22-33

“VERDADEIRAMENTE, TU ÉS O FILHO DE DEUS” (Mt 14,33)
Descobrir Jesus em nossa vida, numa cultura fortemente marcada pela desvalorização da espiritualidade, é um exercício que exige de nós certo esforço; de fato, não é fácil para o homem moderno mergulhar na mística e reconhecer o senhorio na pessoa divina, uma vez que Deus não está limitado aos condicionamentos dos sentidos humanos: visão, audição, olfato, paladar e tato, os que embasam o homem no sentido de identificar tudo o que o cerca.
Deus é espírito, é transcendência, ou seja, é uma realidade que ultrapassa as barreiras das sensações humanas, por isso mesmo fica mais difícil o relacionamento com o ser divino, a não ser que este seja pautado pelo caráter da fé; somente pela fé, um dia lançada nos nossos sentidos, principalmente os da audição e da visão; o da visão porque, algum dia nós ouvimos alguém falar da existência de Deus, isso o que denominamos de “kerigma”; o da visão por que por este sentido podemos ver os ícones, as imagens que transmitem a realidade transcendente, e também ler a Palavra de Deus, hoje registrada na Bíblia, outrora falada de pai para filho, durante longos anos em que fora difundida pela oralidade, isto é, pela fala. É por meio destas ferramentas que temos a certeza da presença de Deus, e podemos, nos relacionar com ele e realizar a sua vontade no mundo.
Acontece que, realizar a vontade divina no mundo real, implica em redirecionar nossa história; é o que chamamos de conversão; mudar de atitudes; as antigas, que corrompem a dignidade humana e prejudicam o desenvolvimento da vida plena e da felicidade, por conta das inúmeras práticas de injustiças que se cometem estas, devem ser suplantadas por novos comportamentos que favorecem o verdadeiro desenvolvimento humano; mas esta conversão confronta o projeto de desenvolvimento humano que normalmente são colocados em práticas pelas sociedades que não comungam com Deus.
Para comungar com Deus, é necessário conhecê-lo; conhecer significa “ter relações com”, ou ainda, “submeter-se, sujeitar-se”, e o homem moderno tornou-se muito independente, muito senhor de si, não deixando espaço para conceber o que não se compreende através de seus sentidos; o profeta Elias reconheceu Deus na brisa mansa (cf. 1 Rs 19,12-13), mas sua sensibilidade, caso não estivesse refinada pela prática do relacionamento com Deus (cf. VS. 9-11); ora, “a palavra do Senhor lhe foi dirigida nestes termos:”, poderia levá-lo a seguir fenômenos extraordinários, mas que não tinham nenhuma relação com a divindade: o “vento impetuoso”, o “terremoto”, o “fogo” eram apenas aparências vazias de conteúdo místico.
Nós, da contemporaneidade, nos parecemos muito mais a Pedro do que a Elias. Pedro possui a relação direta com Deus, na pessoa do Filho; é o próprio Deus humanizado que se encontra diante de Pedro e da barca; Pedro e a barca correspondem à comunidade cristã, que enfrenta as diversidades do mundo, muito bem representada pelo mesmo vento impetuoso que Elias despreza por discernir não ser manifestação divina, Pedro, ao contrário, vacila na fé e pede aquele  que se aproxima, uma prova de que se trata mesmo do Mestre: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água” (Mt 14,28); esta frase, dita pelo líder da embarcação, manifesta toda a insegurança que sentia em meio a tempestade; como pode Deus, total liberdade, mandar que alguém vá ao seu encontro? É Ele quem toma a iniciativa do encontro, este encontro é um ato de liberdade, e se dá de modo muito mais tranquilo, no contexto comunitário; veja que ao se afastar da barca - da comunidade - Pedro logo se afunda no mar, entra em desespero, e clama pelo auxílio do Senhor (cf. v. 30), que prontamente o socorre, sem deixar, porém, de admoestá-lo: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?” (v. 31). Mediante os sinais dos tempos, é a comunidade, reunida em torno da fé, quem testemunha o senhorio de Cristo e se faz capacitada a superar todas as diversidades que se apresentam no dia a dia. Ao contrário, negando a fé professando um laicismo exacerbado, tanto a sociedade, como as pessoas, na sua individualidade, cada vez mais se naufragam diante dos diversos problemas que eles mesmos criam, tornam-se pessoas e sociedade doentes, incapazes de ser e fazer o outro feliz.

Fraternal abraço.

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