sexta-feira, 12 de agosto de 2011

REFLEXÃO DA PALAVRA - XX DOMINGO DO TEMPO COMUM: "SENHOR, FILHO DE DAVI, TEM PIEDADE DE MIM" (Mt 15,22)

 XX DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A – 14/08/2011

PRIMEIRA LEITURA: Isaías 56,1.6-7
SALMO RESPONSORIAL 66/67
SEGUNDA LEITURA: Romanos 11,13-15.29-32
EVANGELHO: Mateus 15,21-28

“Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim” (Mt 15,22)

A salvação estendida a toda a humanidade, superando os limites de fronteira, de cultura, de etnia e, sobretudo, de tipo predeterminado pelo senso comum, aquele mesmo senso que segrega o diferente, é enfim, o novo paradigma que nos é apresentado com a Epifania do Senhor, que se torna Deus conosco; o Emanuel.

Na lógica da Antiga Aliança, todos os que não se enquadram na prescrição da Lei de pureza são tidos como des-graçados, ou seja, desprovido de graça, destarte, não podiam gozar da convivência dos que eram considerados puros, dando grande margem às injustiças, as quais, Jesus confronta e mais tarde, tornaria o grande motivo de sua condenação e morte na cruz; os estrangeiros tidos como pagãos, por serem considerados impuros, sobretudo, por idolatrar divindades que não o Deus único de Israel,  por promoverem sacrifícios humanos, inclusive de crianças e cultos de fertilidade, eram repugnados pelos judeus que condenavam tais práticas; a mulher cananéia é a pura representação destes povos pagãos, considerados pejorativamente pelos judeus como cães; daí o termo “cachorrinhos” transcrito no Evangelho (Mt 15,26).

Já o profeta Isaías, teria instruído aos estrangeiros como se comportar para serem considerados entre os escolhidos do Senhor:

“Aos estrangeiros que aderem ao Senhor, prestando-lhe culto, honrando o nome do Senhor, servindo-o como servos seus, a todos os que observam o sábado e não o profanam, e aos que mantém aliança comigo, a esses [...] aceitarei com agrado em meu altar seus holocaustos e vítimas.” (Is 56, 6-7)

Jesus é judeu, e a rigor, cumpre a lei mosaica integralmente, pois era mestre no Templo: “Dirigiu-se Jesus ao templo. E, enquanto ensinava...” (Mt 21,23); “...todos os dias estava eu sentado entre vós ensinando no templo e não me prendestes” (Mt 26,55) “Chegaram a Jerusalém e Jesus entrou no templo” (Mc 11,15); portanto, Jesus raciocina na ótica judaica; o desprezo à primeira intervenção da cananéia revela além desta condição, também ao propósito de provar e depurar sua fé, além disso, para Deus em primeiro plano estava a os direitos e necessidades do povo escolhido, e Jesus pensa como Deus; é Deus, mas, sua misericórdia excede as condições e limites da lei; o que o move de compaixão pela estrangeira é a humildade que ela demonstra ao reconhecer-se indigna de colher os frutos de Deus, reservados aos judeus: “Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cachorrinhos [...] É verdade, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa” (Mt 15, 26-27), mas também, sua perseverança em reivindicar para si as migalhas da graça divina, que na sua concepção tinham o mesmo valor que o pão inteiro, ajuda a mudar o paradigma da Lei; a resposta é suficiente para Jesus mudar de idéia e conceder que sua filha fosse curada: “Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como tu queres!” (v. 28).

A fé da mulher cananéia, que no relato nem nome possui, o que representa não ter dignidade plena, contrasta com a pouca fé dos que estão mais próximos de Jesus, seus discípulos; ora, são eles quem solicitam a Jesus que a mande embora por estarem incomodados com sua presença (cf. v. 23); o Evangelho de domingo passado (XIX do Tempo Comum – ano A) já denunciava esta condição: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?” (Mt 14,31), indaga Jesus a Pedro, quando este, vacilando na fé afunda no mar; no domingo anterior a este, também, quando os discípulos ordenam a Jesus que dispensem a multidão dos famintos pois precisavam de comida e Jesus os contrapõe com a multiplicação dos pães, não sem antes os chamar a atenção: “Dê-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16). Apesar de a comunidade na pessoa dos apóstolos, sutilmente estar colocada como figurantes no texto de Mateus, a mensagem para o contexto atual é bastante pertinente; não se deve deixar que as diferenças impeçam que a graça divina aconteça na vida das pessoas; jamais, a diferença deve ser motivo de segregação ou justificativa do sofrimento alheio, por outro lado, não devemos aceitar passivamente as condições de exclusão, tal como a mulher Cananéia, com humildade austera e perseverança devemos reivindicar nossos legítimos direitos, seja no âmbito espiritual, seja no tempo e no espaço em que vivemos.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado!

BIBLIOGRAFIA:

·      Liturgia Diária nº 236 – agosto de 2011. Editora Paulus.
·      Revista Vida Pastoral nº 279 – julho-agosto/2011. Editora Paulus.
·      Bíblia do Peregrino. 2ª edição. São Paulo: Paulus, 2006, p. 2354 (notas de rodapé).

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